Projeto Humanarte:promovendo valores humanos atravé da história da arte

Jan Steen, The Dancing Couple, 1663

O uso de obras primas da arte ocidental em sala de aula (uma realidade em muitos países) pode ser conferido, estudado e avaliado a partir das propostas de equipes pedagógicas dos principais museus do mundo. Neste mês o Projeto Humanarte destaca os planos de aula da Galeria Nacional de Washington inspirados na pintura holandesa do século XVII (a Era de Ouro). A pintura de gênero, o retrato e as paisagens foram os segmentos mais relevantes da produção artística de pintores como Johannes Vermeer, Jan Steen, Pieter de Hoock, Frans Halls, Ruysdael, além das obras religiosas de Rembrandt. A qualidade pictórica e a natureza narrativa das telas destes grandes mestres da arte figurativa são fatores que se solidarizam na tarefa de captar a atenção de crianças e adolescentes para o trabalho de leitura de imagem e produção de texto, quando adequadamente abordadas pelos professores

A pintura holandesa se desenvolve em um período histórico em que a própria Holanda se define como nação independente. Após a Guerra dos 80 Anos (1568-1548) as sete províncias do norte das terras baixas (Netherland) separam-se do domínio espanhol. Tratava-se, no século XVI, de uma região que abrigava os territórios atuais do norte da França (Flandres), Bélgica e Holanda. Ao contrário da Espanha, caracterizada pelo domínio aristocrático, católico e colonial, a então Holanda viria a se tornar, no século XVII, um próspero centro comercial, urbano e protestante. Os principais destaques da pintura holandesa, portanto,  vinculam-se às principais cidades do pais: Rembrandt (1606-1669) em Amsterdã; Frans Halls (1580 – 1666) em Harlem e Johannes Vemmer (1632-1675) em Delft.
Os pintores holandeses representavam a vida e a natureza, o campo e a cidade com tanta minúcia e precisão que o conjunto de suas obras forma um registro pictórico quase completo de sua cultura. No entanto, não eram simples imitadores do real, pois sempre reorganizavam o que viam, suprimindo ou realçando traços, exibindo uma criatividade impressionante. Além disto, algumas pinturas que ao observador contemporâneo possam parecer simples cenas da vida cotidiana encerram complexas alusões simbólicas e intenções moralizantes. Nesta tela, por exemplo, o pássaro engaiolado exprime a virgindade e os as cascas quebradas de ovos a perda dela, já que, provavelmente, a cena trata de uma festa de casamento. As flores fora do jarro (à esquerda) e as bolhas de sabão (próximas ao barril aberto) indicam a fragilidade dos prazeres terrenos, o tempo que se extingue rapidamente, o efêmero da vida..
A hostilidade protestante às imagens levou os pintores desta região a diversificarem os temas de suas produções: naturezas-mortas, retratos, cenas do cotidiano, paisagens marítimas e terrestres predominaram sobre temas religiosos. O mercado de arte também tomou características próprias: no lugar de grandes encomendas de reis, bispos e poderosos nobres, a produção holandesa (ainda em luta contra as regulamentações das guildas) atendia uma ampla classe média, a uma classe de ricos mercadores, mas também, para espanto dos visitantes estrangeiros, podia ser encontrada em lares humildes de açougueiros, padeiros, ferreiros e outros artesãos.
Jan Steen (1625-1679) nasceu em Leiden, foi um dos fundadores da Guilda desta cidade, mas também trabalhou em Delft e em Harlem. Entre os pintores holandeses Steen é o humorista e um contador de histórias com conclusões morais. Em várias delas inseriu o seu próprio retrato, em papéis teatrais diversificados, desde o protagonista até o mero figurante. Nesta tela ele aparece tocando o queixo da jovem dama à esquerda.
Muitos dos quadros de Steen, como este, mostram famílias ao redor de uma mesa festiva, onde crianças, adultos, mulheres e homens fazem uma miscelânea que muitas vezes de prestam a corporificar provérbios holandeses. Sua composição evita a estrutura retangular, preferindo as linhas oblíquas (como a lateral externa a mesa nesta tela) para criar a impressão de movimento, animação e confusão contínua. A popularidade de suas telas (centenas delas sobreviveram ao tempo e se encontram em todos os grandes museus da Europa e EUA) inspirou um adágio popular que ainda hoje se utiliza na Holanda: ter uma “casa à Jan Steen”, significa ter uma casa animada, mas profundamente bagunçada e confusa (algo como a nossa “casa da mãe Joana”)
O seu caráter de contador de histórias faz de Steen uma fonte estimulante para o trabalho pedagógico.  As suas cenas festivas e movimentadas podem servir  ao exercício da memória visual ( o teste dos 30 segundos), da descrição e da nomeação (inventando-se novos títulos para a tela) e da produção de várias modalidades de narrativas (sensoriais, temporais ou dramáticas).  

Jan Steen, The Dancing Couple, 1663
Pieter de Hooch Dutch Courtyard (1658/1660)


A Galeria Nacional de Washington introduz uma dica ainda mais interessante: o método comparativo. No seu guia da Pintura Holandesa para professores (Painting in the Dutch Golden Age: Classroom Guide) esta tela aparece associada a uma obra de Pieter de Hooch chamada Dutch Courtyard (1658/1660) na qual uma cena cotidiana exibe aspectos abertamente antagônicos. A expressão corporal dos personagens, o ambiente recatado, a sonoridade que insinua e a composição pictórica conduzem a um resultado diverso e estimulante ao observador.
No mesmo guia aparecem outros exercícios comparativos, envolvendo outros gêneros: retrato; paisagens rurais, urbanas e marinhas. O museu disponibiliza tudo em seu site (www.nga.gov): basta entrar em ‘education” (na página principal) e clicar em “Classroom online resources for teachers and students)” e depois clicar em Dutch Painting. Ali se encontram esquemas de aula e atividades variadas.
O Projeto Humanarte oferece aos professores uma reestruturação deste guia a partir de quatro grupos de recursos de leitura de imagens. Basta conferir em “Dinâmicas de Aula”.
No blog do Humanarte o Projeto indica e debate um série de atividades inspiradas na pintura de gênero brasileira do século XIX.