Sado-Masoquismo - Comentário

Há um desvio e uma fantasia tão freqüentes na arte ocidental, que merece um tratamento mais detalhado aqui. A condição de vítima indefesa e amarrada. A grande macula da história da civilização ocidental é a crueldade, como as das execuções públicas que atraem grande audiência. As obras religiosas e mitológicas são aquelas que melhor ilustram a fantasia sádica e a explicação psicológica para elas.

"Em pinturas como 'Perseu e Andrômeda' de Ticiano e 'Rugiero e Angélica' de Ingres há uma combinação de fantasia do cativeiro e a do resgate. São aparentemente contraditórias, mas talvez seja a melhor forma de justificá-las. Há ainda a fantasia do dragão que ameaça devorar a donzela. Os tubarões de Ticiano podem ser pensados como uma outra versão da 'vagina dentata' (Observe-se que a agressão das feras está dirigida mais ao homem do que à mulher, na composição) A teoria de Jung diria que a ação do herói, resgatando a donzela do perigo que a ameaça, pode simbolizar a libertação do eu essencial do aspecto devorador da mãe.(...)

Na tela 'Martírio de Santa Agatha' de Sebastiano Piombo, não apenas a tortura a que está sendo submetida é abertamente sexual, como também parece que ela recebe bem o ato, sem êxtase sagrado(...)

"Muitas das representações eróticas aqui apresentadas revelam não uma, mas várias categorias de sadismo. Sansão, por exemplo, é um história de perda da potência. Dalila faz o papel clássico da mulher castradora e o corte do cabelo simboliza o corte do pênis. A perda dos olhos pode ser lida como a perda dos testículos, mas também como uma versão da história de Édipo" (LUCIE-SMITH, Edward. Sexuality in Western Art.. Thames And Hudson, London, 1997, p211-215)