Projeto Humanarte:promovendo valores humanos atravé da história da arte

O Morro (1933), Candido Portinari

Faça o teste dos trinta segundos. Funciona assim: em primeiro lugar exponha este quadro por apenas trinta segundos a seus alunos. Não dê nenhuma orientação sobre o desafio que será proposto. Enquanto o tempo é cronometrado, pode-se comentar brevemente sobre o artista e sua obra. Esta tela pertence ao acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York e apresenta aspectos inspirados no expressionismo, como a distorção subjetiva das figuras, formas e cores. Findo o prazo, apresente a seguinte questão: o que você viu?. 

As respostas podem ser dadas em lista por escrito, individualmente ou em grupo.  Podem compor uma pequena competição (meninos e meninas; iniciais vogais ou consoantes dos nomes de cada aluno; fileiras; fundão etc). Para ampliar a expressão do que a memória reteve, algumas perguntas ajudam a resgatar as figuras por classificação ou tipologia: homens, mulheres, crianças, prédios, transporte; por quantidade; por cores dominantes; pela posição no plano pictórico (fundo, frente, esquerda...); por movimento (prá que lado o avião de dirigia?); por ponto de vista (frontal  ao observador; perfil, de costas; três quartos). Volte ao quadro para conferir as respostas. Pense antes numa pontuação. Cuidado com o excesso de competição.

A dinâmica da memória ativa o olhar de tal forma que na próxima vez que se usar esta técnica todos estarão alertas. A dinâmica seguinte, concebida por nível de complexidade, seria o teste da narrativa. Funciona assim: imagine uma viagem no tempo e leve seus alunos a produzir um diário de bordo, relatando a cena estudada. Também se pode utilizar o desafio “Complete a história”. Os alunos seriam, assim, estimulados a descrever o que aconteceu trinta minutos (horas, dias etc) antes da posição em que se encontram os personagens. Ou ainda poderiam imaginar o que acontecerá trinta minutos (horas, dias etc) depois. É bom deixar claro que não há resposta correta, não se tem que descobrir o que o artista estava pensado, nem que realizar uma pesquisa histórica. Trata-se de um exercício de produção de texto com ponto de partida.  Com alunos ainda não alfabetizados, as duas dinâmicas podem ser feitas como atividade oral (debate, show de entrevista, concurso, tribunal de justiça etc).

Neste grupo de dinâmicas (as narrativas) pode-se fazer uso da técnica da “Manchete de Jornal”, para alunos mais avançados. Aqui entraremos num nível maior de complexidade, pois é necessário indicar o uso das palavrinhas mágicas (normalmente usadas nas aulas de produção de texto ou Língua Portuguesa): o que, quando, onde, quem, como, porque. Também se pode alertar para o grau de expressividade alcançado com a técnica jornalística que associa a chamada (título), lead (cabeça do texto) e corpo do texto. Basta expor matérias de jornais (on line) para identificar esta estrutura.

O nível seguinte de leitura de imagem e produção de texto será chamado “Narrativa com os cinco sentidos”. Basta retomar tudo o que foi dito no parágrafo anterior e acrescentar mais um desafio. Imagine-se dentro da cena e conecte todos os seus sentidos a sua capacidade de observar. Use pelo menos quatro deles (visão, audição, paladar, tato, olfato) e refaço o texto.

O nível final será um exercício de empatia: escolha um personagem e deixe-o falar, falar tudo que foi proposto até aqui (cinco sentidos, cinco palavrinhas mágicas, trinta minutos antes).
Imagine, por exemplo, o que está falando o menino que puxa a saia daquela que parece ser sua mãe, uma das que não carregam latas d´água na cabeça. Pode-se imaginar o que ele ouve (o avião, um rádio ligado, um cão), o que ele sente sob os pés, o que vai fazer daqui a pouco.

Este discurso ou testemunho articula a imaginação e a expressão ao sentido da empatia, a um sentimento interior. Colocar-se no lugar de um personagem é emprestar seu corpo e seu coração para descobrir o que o outro sente. Já imaginou se pudéssemos fazer este exercício em nossas relações cotidianas? Quanta confusão e quanto conflito não seriam evitados? Na escola, no casamento, na sala dos professores.

Na próxima semana vamos relatar um novo caso de leitura de imagem em que todos estes níveis e técnicas foram agrupados e explorados por alunos de uma escola de Londres (equivalente a nosso oitavo ano), descrito pela equipe pedagógica da National Gallery.
Até lá. Envie seus comentários